(Este texto foi
publicado nas Notas do meu Facebook no mês de maio. Agora publico aqui porque
se trata de um pedaço importante da minha vida)

Dou um pequeno passo atrás e ao
lado para retomar o que se configuram habitualmente como ídolos – pessoas
distantes que admiramos como fazemos com o sol, mas que precisamente como o
astro, estão demasiado longe e se nos aproximássemos queimar-nos-íamos – e
reafirmo que nunca os tive. Sempre gostei de música. Do que oiço contar, desde
bebé. É algo familiar, havendo histórias de, ainda em criança, haver quem se
ajoelhasse perto do rádio para ouvir alguma canção enquanto chorava. Não fui
eu! Efetivamente fui uma criança durona. Como testemunha a minha família que um
dia já foi grande, em criança sentava-se avó, pais, tios, primos, em meu redor,
e eu cantava. Não me recordo bem o quê mas sei que a Amália Rodrigues e a Maria
de Lourdes Rezende estavam no repertório. Recordo que o “Fado do Cacilheiro”
era obrigatório. E a música clássica fez sempre parte da família.

Era na sala da minha casa, mais
tarde também na garagem, que eu com algumas amigas muito selecionadas (para ter
permissão de entrar na minha casa era mais difícil do que no Palácio de Belém
ou na própria Base Aérea nº 4 e que não nomeio porque não sei se gostarão mas
se lerem isto, saberão que me refiro a elas) nos juntávamos para ouvir as
canções e falarmos daquelas coisas que as meninas com as hormonas aos saltos
falam. Uma dessas amigas, já eu era mais entrada nos “teen” vinha a minha casa
e dizia-me “Paula, canta-me os ABBA”. Nunca me pediram para cantar em francês
ou em espanhol. Talvez por isso eu nunca tenha aprendido esses idiomas. Quero
dizer, o espanhol estou agora a aprender por motivos muito fortes. Mas a par de
ótimos professores, em conjugação com um ouvido treinado na televisão
americana, o de berço “Channel 8” da Base das Lajes, os ABBA foram uma forma
muito boa de aprender inglês.
Destas vivências formulo o meu TOP
TOP TOP, que atualmente eu refiro como TOP 5 e que significa que eu gostava de
todas as suas canções conhecidas. Com sinceridade, não são todas. Mesmo dos que
ocupam os dois primeiros lugares (e são 2 em ex aequo), há duas canções, uma de
cada, de que não gosto. Mesmo nada. E dos que ocupam as posições seguintes há
algumas que não me agradam. Mas são o meu TOP porque gosto de quase todas,
mesmo quase todas.
Meu TOP 5
1 – ABBA/Camilo Sesto
2 – Bee Gees
3 – Lionel Richie
4 – Cliff Richard
5 - Donna Summer
Assim, este TOP é constituído por
cantores de língua inglesa. Apenas Camilo Sesto não o é ainda que cante (muito
e bem em inglês, além de o fazer também em português – do Brasil -, italiano,
francês e alemão).
Mas nenhum foi meu ídolo. Dos ABBA
a minha preferência foi sempre Agnetha Fältskog pela linda voz e ar angelical.
O grupo terminou quando ainda eram muito escassas as publicações em Portugal sobre
o mundo das canções. Penso que terei sabido que os ABBA já não existiam talvez
meses depois disso suceder e foi um desgosto muito, muito grande. É já no mundo
da internet que descubro muitos anos depois (e há muitos atrás) de que uma das
razões de rutura foi precisamente Agnetha. Hoje tenho todos os livros que pude
encontrar dela e do grupo e entendo perfeitamente as suas razões. Serão sempre
os meus ABBA e ela a angelical “golden hair girl”.
Camilo Sesto. Camilo é outra
história.

Posteriormente chega a Portugal as
outras duas canções que eu penso que, depois desta, tenham sido mais conhecidas
por cá, “Melina” e “Algo Mais”. Infelizmente para nós Camilo Sesto nunca esteve
em Portugal. Durante a sua fulgurante carreira fazia-se acompanhar pela sua
banda, Alcatraz, que com mais de 40 músicos, pode ter complicado contratos e
acordos de custos com o nosso país (afinal eram todos profissionais a quem
havia que pagar salários). Enquanto o seu nome ficou bem estabelecido noutros
países europeus além de Espanha, nas Américas e no Japão, nós não tivemos o
privilégio de o ter nunca em palco. No Brasil, sim, esteve, nomeadamente no
Festival da OTI em 1973.
Segui a sua carreira até 1983 ou
1984 quando a minha entrada na Escola de Enfermagem e depois no mundo
profissional (entre outras razões) me afastam muito destas preferências, o que
basicamente coincide com a retirada do artista após o nascimento do seu filho
numa opção de se tornar pai a tempo integral.
Mas Camilo Sesto não foi também meu
ídolo.
Houve uma tentativa de ter um
poster dele nas paredes do meu quarto como tinha de outros artistas. Mas foi-me
mais ou menos comunicado de modo mais ou menos formal que não era permitido
“aquele” poster ali. Se eu o publicasse aqui compreender-se-ia porquê. Numa
família tradicional em que todos eram anjos (não por bondade mas por não ter
sexo), um poster assim nas paredes era meio caminho andado para a perdição. Eu
teria de redescobrir Camilo Sesto depois dos 40 anos para descobrir qual era o
problema do póster. Ó santa inocência!!!!
O seu nome “Sesto” sempre me soou
algo estranho. Não necessariamente desagradável. Eu gostava demasiado de tudo o
que cantava (menos uma canção!) para que o nome me desagradasse. Mas era
estranho. Porém, num mundo onde existiam grupos chamados “Doce”, “Cocktail” e
por aí fora, “Sesto” era só uma forma aproximada de um numeral.
Reitero. Camilo Sesto não foi nunca
um ídolo para mim.
Eu era sua fã, iniciei um clube de
fãs, tanto quanto sei, o único português, na “Crónica Feminina”. Era outra
mania minha. Quando não havia redes sociais eu tinha um clube de fãs de um
cantor espanhol e um clube de correspondência. Tudo publicado na Crónica
Feminina. Pergunto-me se ainda existirão amizades feitas nesse clube ou até
casamentos. Cheguei a ter de escrever mais de 100 cartas por semana para todo o
mundo. Houvesse dinheiro para o correio. Mas esta também é outra história.
Quando me dou oportunidade de a
música voltar á minha vida, redescubro Camilo Sesto (estranhamente - ou não -
os Bee Gees e os ABBA nunca se afastaram). Sei do seu projeto “O Fantasma da
Ópera”, sigo o lançamento dos seus últimos CDs, nomeadamente “Alma”, “Número 1”
e “Todo de Mí”, sonho em ir a Viña del Mar em 2004, quando arrasou literalmente
o júri e os espetadores arrecadando todos os prémios possíveis mas, é quando
anuncia a sua retirada e a sua última presença em palco em Espanha em 2010, que
levo o susto de compreender que nunca o veria pessoalmente nem assistiria a um
concerto seu. Foi um desgosto. Grande. Como quando os ABBA se retiraram. Mas
num mundo mais pequeno e global como o atual não fazia sentido. Todavia, não
pode mesmo ser.
Entretanto, o clube de fãs tinha
sido recuperado, graças ao Facebook (pode ter muita coisa má mas tem também do
melhor deste mundo). Sinceramente não sei se sucedeu em Maio. Porém, por
algumas, outras e boas razões, associo este mês a Camilo. E pelos vistos não
sou só eu pois o dia 28 de Maio é o Dia de Camilo Sesto no Estado do Nevada,
EUA. E talvez, como Camilista, ainda se seja muito feliz em meses de Maio…
É em Maio que eu tenho o meu
primeiro ídolo. Mas não é Camilo Sesto.
Camilo Sesto é o nome artístico de
Camilo Blanes Cortés.
Qualquer simples busca no Google ou
outro motor de busca que eu não recebo nada pela publicidade, mostra quem é (já
agora no grupo Camilo Sesto - Fãs de Língua Portuguesa também): cantor,
compositor, letrista, poeta, ator, tradutor, pintor, produtor – e muitos “ores”
mais. A sua interpretação do papel de Jesus em Jesus Cristo SuperStar é
lendária e alvo de es tudos especializados. O estrondoso número de êxitos e de
canções que figuram em primeiro lugar dos TOP em diferentes países também se
encontra facilmente. Tudo o que houver de mais honroso e público sobre Camilo
Sesto está aí em todas as fontes possíveis e imaginárias. É só procurar. Desse
sou fã.
O meu ídolo é Camilo Blanes (para
evitar enganos de interpretação, explico: o pai. Em Espanha e nos países
hispânicos, o nome paterno é o primeiro a seguir ao nome próprio – o inverso de
Portugal, dos países lusófonos e dos demais países ocidentais – e clarifico, o
pai, porque o seu filho é seu homónimo, ainda que no caso deste, seja
igualmente o nome artístico). Perguntar-se-á “Mas Camilo Sesto e Camilo Blanes
não são a mesma pessoa?” e eu respondo: sim e não. Não vou explicar. Só afirmo
que o meu ídolo é Camilo Blanes [Cortés].
É em Maio de 2014 que tenho a
oportunidade de o conhecer em carne e osso. De vê-lo à minha frente em palco, ainda
que esse palco seja o plateau de uma televisão. É público e o que é público eu
posso dizer (o que não é, morrerá comigo – afinal já há gente demais que por um
espirro afirma essencialmente que dormiu ou dorme debaixo da cama de Camilo).
Vê-lo entrar foi algo surreal. Camilo mede 1.86m mas a perceção que eu tive foi
de ver entrar um gigante (que o é artística e metaforicamente). Literalmente. Mal
sabia eu que confirmaria que o é também do ponto de vista humano – El Blanes.
Deste modo, o mês de Maio é para
mim o mês do meu ídolo. Além de continuar a ser, como tem sido, desde que está
na minha vida, o do meu marido, por ser o mês do seu aniversário. Sorrio
enquanto imagino a pergunta de quem me lê e que com alguma frequência me fazem
“E ele [ou o Jorge; ou o teu marido; ou o seu marido] não tem ciúmes?” E pela
primeira vez eu respondo em público o que tenho respondido a quem me faz a
sacramental pergunta: “Não. O meu marido é muito inteligente. Se tivesse ciúmes
ficava com dois problemas.” E efetivamente o meu marido é demasiado inteligente
(cognitiva e emocionalmente) para ter ciúmes do meu ídolo. Não foi por acaso que
só do 3º marido eu aceitei o apelido. O Jorge é “El Amor de Mi Vida”, a pessoa
que me dá a estabilidade de que eu necessito. Ou seja, a maior riqueza que eu
posso ter, porque a minha veia de inquietação e de loucura (de “fresa salvaje”)
necessita assim deste porto seguro (não é coincidência que tenha sido a
primeira cidade que conhecemos no Brasil). Mais do que de qualquer outro tipo
de riqueza. Com isto e saúde eu sou feliz. No mês de Maio. E em todo o ano.
Adoro ler o que escreves e a forma como o fazes. Devias escrever um livro e publicar. Beijinhos
ResponderEliminarVou pensar no assunto ;)
ResponderEliminarMuito obrigada!!!!