Comecei psicoterapia há 9 anos por causa de fobia a
lagartixas.
Tenho-lhes aversão desde miúda mas em 2005 e em 2006
estragaram-me, ou melhor, eu estraguei umas férias em Porto Seguro e na
Terceira por causa das bichinhas que estavam no seu habitat natural, logo, fui
eu que estrague e não elas.
Não sei quando me começou esta fobia nem porquê mas veio a
piorar com a idade.
Tinha o meu filho mais velho 2 semanas de vida quando em
casa de uma tia, no seu jardim, numa festa de aniversário, o meu primeiro
marido me pega num braço e diz “levanta-te”. Não se espantou, mas eu compreendi
que algo se passava e, entretanto, cai-me uma lagartixa nas costas. Gritei como
louca e agarrei o bebé de modo que não o deixava. Espantei todas as pessoas e
fiquei muito mal. Mas o medo era muito anterior, como digo, desde criança.
Em 2005 em Porto Seguro, entrou-nos uma no quarto de hotel
(um hotel de cinco estrelas, num ecoresort). Entrei em choque, não dormi nem
deixei dormir, quis mudar para um hotel de cidade, e lá fomos. Até que no
último dia havia lagartixas no hall de entrada e eu desorientei e fiquei muito
feliz de sair de uma terra com tanta bicheza.
No ano seguinte, em Agosto, na Terceira, na freguesia do Porto
Martins, em 3 semanas, a ansiedade atingiu níveis elevadíssimos. Não entraram
em casa mas havia no quintal e era uma saga connosco a sair cedo antes de elas aparecerem
e a entrar em casa à noite. Não foram férias, foram um tormento e quando regressei
a casa estava numa crise de ansiedade em que reparei que tinha de me tratar
para conseguir desfrutar férias em paz. Não tinha mais direito de as estragar
nem a mim nem a ninguém e como só não há lagartixas nos pólos…
Nesse mesmo ano, em Abril, em Punta Cana a coisa só não
ficara feia porque eu descobri as “minhas amigas”, como são designadas pela
minha família, no telhado do salão de espetáculos e numa ilha no meio da
piscina apenas no último dia.
Tratar essa fobia foi muito mais fácil do que eu pensava, e
passando as etapas todas, nunca cheguei a pegar em nenhuma nas mãos, mas quase
lhes tocava sem problema.
Em 2007, em Salvador, veio a prova.

Ao longo destes anos notava que não me incomodam. Prefiro-as
longe mas de modo algum me incomodam e muito menos como me sucedia.
Hoje, estava aqui em casa a preparar-me para ver o jogo do
Euro, mergulhada a corrigir exames dos meus alunos quando o meu filho Diogo
chega do trabalho e me diz: “Mamã, podes vir aqui”. E eu nada, sem vontade,
estava a trabalhar bem e concentrada e não queria mesmo sair de onde estava.
Mas ele insistiu, mansamente, de modo que eu pensei que ele me queria mostrar
algo fora da sala. Levantei-me e quando me afastei de onde estava ele disse: “Tem
calma, está uma lagartixa na cortina da sala”. A cortina fica ao lado de onde
eu estava. Coisa de 1 metro de distância. Olhei e lá a vi. Não me deu qualquer impressão.
Só me perguntei por onde entraria. Talvez pela lareira. No primeiro ano em que
viemos para esta casa, entrou uma pela porta e foi o ver se te avias de
gritaria e toda a gente à procura porque ou saía ela ou eu. Em pânico. Hoje o
Jorge e o Diogo procuraram-na. Eu não só pela simples razão de que não posso
arrastar pesos, mas mirei também. Nunca a encontrámos. Ou seja, anda por aqui e
eu estou tranquila. Diz-me o meu marido: “O que mudaste nesta e noutras coisas!”.
Noutras coisas eu gostaria mas ainda não ultrapassei. Pelo menos algumas. Talvez
chegue o dia.